sábado, 21 de junho de 2014

Muito além de dinheiro

Ver o preço que foi pago pelos brasileiros para que a copa do mundo/2014 acontecesse aqui, esfria em nós a vontade de torcer pela seleção.
Deixando de lado as suspeitas de corrupção quanto aos gastos nas construções dos estádios, vidas [quase invisíveis] foram tristemente humilhadas e rebaixadas ao nível da indigência em função desse chamado "entretenimento popular".

Possíveis 250 mil pessoas desabrigadas, 9 mortes de operários e vários feridos, nos deixam na boca o gosto amargo da vergonha. Alheia? Talvez não devesse ser tão alheia assim. Talvez seja um tempo oportuno de chamarmos para nós a responsabilidade e nos compadecermos pela dor do outro. Talvez, aqueles que conhecem o verdadeiro sentido e valor de um protesto, bem como a forma correta de fazê-lo, não devessem ter desistido só porque, em campo, o juiz deu início à partida.

A pouca ênfase que foi dada às mortes dos operários nas construções dos estádios é de um descaso sem precedentes. Além disso, as famílias das vítimas foram obrigadas a conviver com as "pérolas" ditas pelos nossos esportistas aposentados, se referindo a esses tristes episódios como sendo algo banal, sem importância. Fica claro que, se a seleção brasileira for campeã, não vai ser assim tão empolgante ver a taça ser erguida pelo capitão da equipe, uma vez que, o "pano de fundo" não compensa.

Voltando às desapropriações, segundo a nossa constituição, as razões que podem levar um cidadão brasileiro a ter que se desfazer de sua propriedade com direito a JUSTA e PRÉVIA indenização, tem a ver com necessidade pública, utilidade pública ou interesse social. Penso, repenso, reflito e concluo: a copa do mundo não se encaixa em nenhuma dessas justificativas. Muito pelo  contrário! Necessidade, interesse e utilidade temos com respeito a dois pontos demasiadamente falados e discutidos: educação pública de qualidade e saúde pública digna. Discussões que não levaram a qualquer solução ou possibilidade de investimento nessas áreas: os impedimentos (sejam eles quais forem) se puseram acima das necessidades básicas da sociedade.

Só nos resta assumir que, algumas coisas ruins acontecem porque o povo não sabe a força que tem.

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