terça-feira, 26 de agosto de 2014

Dignidade X Rebelião

Durou 45 horas a rebelião que aconteceu numa penitenciária do Paraná, na cidade de Cascavel. A razão pra que ela fosse desencadeada seria a superlotação das cadeias e os rebelados estariam exigindo a transferência de mais da metade dos presos para outra penitenciária.

Deixando de lado a condição do sistema carcerário brasileiro e todas as questões sociais e legislativas que o envolvem, algo na notícia que trata do ocorrido em Cascavel, de uma forma especial, me chamou atenção. Trata-se de um detalhe que foi divulgado pelo site UOL a respeito dos detentos: "Com grito de guerra eles pediam por dignidade."

É fato e, os familiares dos presos nem precisariam ter entrado em detalhes no vídeo que consta na matéria, que os presidiários no Brasil sofrem maus tratos por parte de alguns agentes, pagos para exercer autoridade sobre eles. Às vezes há o abuso dessa autoridade e os condenados (ou simplesmente detidos) sofrem, desde agressões físicas, a psicológicas. É fato também, que a superlotação não deveria existir e, o estado deveria sim, se preocupar com isto.

Entretanto, ao queimar colchões, fazer reféns, jogá-los do telhado do presídio e até decapitar pessoas durante rebeliões como esta, os presos estão justamente reforçando a ideia de selvageria com a qual, muitas vezes, são tratados. Estão mostrando que não são dignos.

Porque dignidade não se conquista com ações de rebeldia ou agressividade, mas na vivência civilizada, no trabalho, na educação, no convívio social pacífico e no exercício da cidadania.

Alguns deles poderiam reclamar a falta de oportunidade de trabalho e até da própria educação citados acima. Porém, existe uma oportunidade que, independentemente da ausência de outras, não deveria ser aproveitada: a de cometer crimes. Para toda ação, há uma reação... Se estão submetidos ao sistema prisional brasileiro (que, sejamos honestos, não recupera ninguém) é porque um dia, direta ou indiretamente, fizeram algo para merecer a cadeia.

Uma vez presos, a lista de privilégios não é curta e, tantos cidadãos de bem, trabalhadores, desempregados ou idosos neste país, não gozam da prática dos mesmos direitos que eles, que vai, desde assistência médica/odontológica, passando por direito a recreação e chegando no extremo: auxílio - reclusão, no mesmo valor do salário mínimo! O que nos faz ficar gratos, pois aquele, há alguns anos atrás, era superior a este. Ou seja, a situação econômica da família de um criminoso, estava acima da situação econômica da família de um trabalhador honesto. Concluindo, alguém que lesou a sociedade física ou moralmente, acaba tendo salário pago por essa mesma sociedade!

Embora o valor do auxílio tenha sido reajustado e baixado de R$ 971,78 em 2013, para os 724 reais do salário mínimo, ainda há muito o que ser feito para evitar crimes e rebeliões num país com tantos valores invertidos e leis passíveis de reformas.